O Fechamento do Atari Club: Um estudo de caso de memória, homofobia e dinâmicas sociais em espaços de sociabilidade LGBTQIAPN+ em São Paulo

Esta pesquisa tem como objetivo documentar a mudança da região dos Jardins, em São Paulo, de bairro de intensa sociabilidade LGBTQIAPN+ para bairro estritamente residencial, em meados dos anos 2000. O ocorrido envolve fatores como a atuação do poder público, incômodo dos vizinhos, migração característica dos espaços de lazer noturno na cidade e declarações e violências homofóbicas. Como maneira de ilustrar a situação, utiliza o caso do fechamento do Atari Club, casa noturna que funcionou entre o final de 2003 e o início de 2006. A boate foi fechada depois que fotos de cunho sexual e não explícitas de frequentadores de festas chegaram a pessoas de fora do círculo de habitués. Após uma reação estridente da opinião pública, permeada por homofobia e moralismo, o espaço foi fechado pela prefeitura. A alegação oficial foi falta de alvará, mas comentários dos trabalhadores que de fato lacraram o espaço revelaram o peso do preconceito na decisão. O Atari foi apenas um dos primeiros. Os demais bares e boates da região também foram fechados até não haver mais sombra da vultosa vida noturna que ocupava as ruas do bairro. Os empresários donos dos empreendimentos fechados, a princípio, assumiram o discurso de que os fechamentos foram motivados por homofobia, reforçando a hipótese de homofobia. Além disso, os personagens desta pesquisa assumiam, na época, diferentes performances estésticas ligadas à homossexualidade, a estilo musicais e à cultura da vida noturna que também são mapeados e descritos nesta pesquisa. Por fim, relacionamos o caso do Atari Club e do Jardins com outros casos semelhantes, como as Rondas de Richetti, o caso do Ferro’s Bar, ambos nos anos 1980, e um caso contemporâneo, o fechamento do Mariposa Bar, em 2024, buscando revelar padrões nas relações entre espaços de sociabilidade LGBTQIAPN+, forças de seguranças, poder público, opinião pública e vizinhos. Para cumprir com estes objetivos, e certos do valor do testemunho para a compreensão do passado, utilizamo-nos principalmente de história oral, mas também de revisão bibliográfica e jornalística sobre a noite paulistana e homossexualidade.